quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Resposta ao editorial do Estadão

trecho do Editorial do Jornal O Estado de São Paulo do dia 21/08/2014

Diana Assunção, diretora do Sintusp e membro do Comando de Greve

Hoje fui informada, junto aos meus colegas de trabalho que estão protagonizando quase 90 dias de greve, que o jornal O Estado de São Paulo havia feito um editorial atacando nossa luta. Não foi só isso: em uma posição escandalosa, essa imprensa encontrou argumentos para justificar o injustificável, ou seja, a repressão policial que deixou 5 trabalhadores feridos entre estilhaços de bombas e balas de borracha. E diz ainda que minha posição de denúncia dessa repressão, publicada no Estadão de ontem, “não tem cabimento”, já que a polícia cumpriu seu papel, como deveria ter feito. Pois bem, vejamos mais de perto o sentido de nossa greve para debatermos com essa visão.

Em primeiro lugar, precisamos entender que existe uma grande discussão hoje nos meios sobre a suposta “crise da USP”: tal discussão, em realidade, estimula a ideia de que houve uma “má administração” das contas e que é necessário “cortar gastos”. Aqui aparece a primeira faceta da atual administração: propõe-se congelar o salário dos funcionários e professores (dando 0% de aumento, ou seja, sem cobrir sequer a inflação) e cortar “outras gorduras” (nas palavras do reitor), que muitas vezes são gastos fundamentais em áreas de pesquisa e educação da universidade. Foi daqui que nasceu nossa greve, uma luta totalmente imposta a nós pela reitoria, pela mais completa falta de consideração com seus funcionários e professores, querendo que nós paguemos uma suposta “crise” que eles (os administradores da universidade) provocaram.

Passamos dois meses da greve e a reitoria toma uma atitude: mantendo a intransigência na negociação, corta o salário dos trabalhadores (em alguns casos integralmente). São dias, semanas e meses de falta de qualquer diálogo, não bastasse, corte de salários de maneira arbitraria e ilegal. Após esse corte, a reitoria toma outra atitude: uma “proposta” que visa introduzir programa de demissão voluntária, desvinculação do Hospital Universitário da USP e outras “reformas”. É uma verdadeira sequencia de ataques contra a universidade pública, contra os funcionários e professores e contra a população (que vai perder um Hospital importante da região, que com a desvinculação abre caminho a privatização).

Até mesmo o Tribunal Regional do Trabalho ontem questionava a intransigência da reitoria de oferecer o zero e ainda cortar o salário dos trabalhadores, de um pedido advindo da própria reitoria (ou seja, a própria justiça, questionável muitas vezes nesse tipo de julgamento, considera descabida e intransigente a postura da reitoria).
E quando parecia não ter limites o absurdo da política da reitoria, ela (junto ao governo do Estado) supera ainda mais a falta de respeito com os trabalhadores e chama a polícia para reprimi-los com bombas e balas de borracha na última quarta-feira.

E porque essa determinação do governo, a reitoria e a polícia em reprimir a ferro e fogo os trabalhadores?
Porque se trata de implementar um projeto de universidade que sirva aos interesses empresariais e políticos que querem abrir o caminho às fundações, terceirização do trabalho, a retirada de direitos estudantis (permanência) e, conforme já debatido, a cobrança de mensalidades na universidade, ou seja, a completa privatização da maior instituição de ensino público do país.
Nesse sentido, o significado de nossa greve já não pode ser descrito de outra maneira, senão o da luta pela educação pública pra toda a população, uma universidade aberta e ligada aos interesses dos trabalhadores, com serviços, como o hospital universitário, que garanta o melhor atendimento.
Por isso nós estamos fazendo uma série de medidas para chamar a atenção pra essa luta, como passeatas, debates na universidade, ou a ida a doação de sangue pela saúde pública, com mais de 100 funcionários envolvidos. Os trabalhadores da USP vem se mostrando um exemplo de como se luta por educação e saúde, e contra esse governo e essa reitoria da intransigência.

Nesse sentido, ontem fizemos uma medida de “fechar” os portões para que esses ataques não passem, que todos vejam que o reitor Zago e Geraldo Alckmin querem a privatização da USP. Fechamos um dia a universidade para mostrar que ela se mantém fechada todos os dias pra população e que não vamos permitir que eles concluam esse projeto privatizante.

E o que poderíamos esperar da ação policial enviada por eles? O que eu esperaria de uma polícia que é questionada por mais de 70% da população e que havia acabado de assassinar um jovem Wesley na região sem justificativa, como tantos outros Amarildos, Claudias, Douglas e infelizmente um longo etc? Naturalmente que com esses métodos, herdeiros da ditadura, não poderíamos esperar outra coisa senão uma cultura de resolver os temas da greve “no porrete”, nas bombas e balas de borracha.

Então nós perguntamos: o que quer o Estadão com essa defesa unilateral da reitoria, o governo e mesmo a covarde repressão policial aos trabalhadores? Num momento em que todos estão de olho na Universidade de São Paulo e estamos protagonizando uma imensa luta pela educação pública, essa imprensa joga palavras ao vento em uma defesa incondicional da reitoria, governo e a polícia, mas desfaz também qualquer dúvida sobre sua independência como meio de comunicação, pois não se trata mais de um jornal, mas sim de um veiculo de politicagem do governo e da reitoria, disposto a “inverter tudo” para ir contra os trabalhadores.

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