sábado, 16 de agosto de 2014

A voz dos trabalhadores das estaduais paulistas em luta, lições para toda a classe trabalhadora

Claudionor Brandão, diretor do Sintusp, demitido político

Tenho orgulho de fazer parte de um sindicato que, diferente da maioria do país, é reconhecido na base da categoria como de luta, por vários motivos. Em primeiro lugar, porque garantimos a democracia e o poder de decisão da base. Por exemplo, nessa greve a direção é do comando de greve que tem trabalhadores eleitos na base, onde tenho o mesmo direito de voz e voto que qualquer trabalhador. O movimento organizado pela base é o que nos permitiu aguentar 80 dias com uma greve forte, a mais longa da história, enfrentando a intransigência. Por isso, é que dizemos que é necessário expulsar os dirigentes sindicais vendidos que só querem privilégios e recuperar os sindicatos para a luta. 
O resultado da nossa luta segue em aberto, mas assim como os garis do RJ, deixa algumas lições que servem para os trabalhadores de todo o país se prepararem melhor para as que estão por vir.
Uma delas é que se os patrões nos atacam com demissões ou corte de ponto, não podemos recuar enquanto o movimento tiver força e união. Esse é o significado do “Não tem arrego”! Esse foi o ensinamento dos garis e que estamos seguindo na USP, radicalizando em resposta ao corte de ponto com mais piquetes, atos, trancaços, etc.
A outra é que não basta lutar por salário, porque só os trabalhadores podem conquistar serviços de qualidade, que foi a reivindicação das ruas em junho do ano passado. Por isso, na nossa greve fizemos passeatas em defesa da saúde pública e doamos sangue para o SUS, com os grevistas do Hospital Universitário na linha de frente. Nossa luta é também em defesa da universidade pública, por isso valorizamos muito a unidade com estudantes e professores.
Por fim, nós trabalhadores só podemos confiar nas nossas forças. É necessário a solidariedade ativa entre as categorias. A força da nossa greve esteve na manutenção da unidade na base na USP e na resistência dos trabalhadores da Unesp e Unicamp que também não aceitaram a divisão que nossos inimigos quiseram nos impor. Mas a importância dessa lição vai além da USP, Unesp e Unicamp. Apoiamos a greve dos metroviários porque encaramos como parte de uma mesma luta. A derrota deles impactou toda a nossa classe. Estamos colocando todas as nossas forças para vencer os nossos inimigos e retomar o caminho das vitórias aberto pelos garis.





Os trabalhadores não vão pagar pela crise da USP! Por isso exigimos a abertura imediata do livro de contas e mais verbas pra educação pública, como parte de atender a demanda salarial e contratação de funcionários e professores. Este é o caminho necessário na luta por uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo pobre, sem vestibular, e dirigido por um governo tripartite com maioria estudantil 


Marcelo Pablito, trabalhador do restaurante da USP e diretor do Sintusp








Na Unesp, somos 24 campi pelo estado e encontrávamos muita dificuldade em nos comunicar e construir ações conjuntas. A base pressionou o sindicato pela realização do III Encontro Estadual dos Trabalhadores da Unesp e, a partir dele, foi criada a Comissão Estadual de Mobilização, composta por trabalhadores eleitos na base, que com reuniões semanais passou a articular ações, como o Trancaço Unificado do dia 31/07 do qual participaram 11 unidades. Essa é a nova tradição de luta que vem se forjando na Unesp: organização pela base, utilização de métodos de luta da nossa classe e que só unidos somos fortes.
Gaetano Esposito, trabalhador da Unesp Marília, membro eleito pela base para o comando de greve local e estadual



A greve na USP e especialmente no Hospital Universitário tem sido uma grande lição para os trabalhadores, a união e o companheirismo que nasceu deste momento está mudando a história desta instituição. Trabalhadores que sofrem há anos dentro de um hospital com alta demanda de atendimento, falta de investimento, número insuficiente de funcionários decidiram sair em luta por uma saúde de qualidade e de melhores condições de trabalho. Não foi só o 0%, estamos lutando por algo muito maior que isso, é pela saúde com qualidade, é por educação de excelência e gratuita é por transparência e justiça.
Samantha, membro do comando de greve pelo Hospital Universitário da USP


A cada conversa, a cada passeata, a cada gesto de resistência, fortaleço-me pela luta desses bravos lutadores das velhas gerações que passaram, e ainda passam, por adversidades infinitas, e não cederam ao medo, a opressão, ao cansaço ou ao desespero. Rostos enrugados, pernas mancas, cabelos brancos. Cada coisa contando uma história. Sem arrego, construíram a história da classe trabalhadora do Brasil
Patrícia Galvão, membro do comando de greve eleita pela FFLCH-USP


Estar de greve não é transferir o poder de lutar pelos nossos direitos para os outros e sim nos empenharmos em lutar por todos. Foi notável também a busca e dedicação incessante por seus dirigentes e colaboradores para promover melhorias que engrandeça o movimento e o torne vitorioso. Vejo que há sempre a preocupação para que os fatos sejam tratados com coerência e boa-fé, preservando sempre os princípios e a dignidade em relação as atitudes tomadas como resolução. A greve não se faz simplesmente por pessoas “paralisadas” e sim com ações e comprometimento.
Elenice, trabalhadora do Restaurante da Física – USP

Mobilizações como a atual greve na USP nos chamam o tempo inteiro a estar atentas, a refletir, a tomar posição, dentro e fora do trabalho. Para aquelas que começam agora sua experiência de luta, é um desafio que não deve ser rejeitado, mesmo com as muitas dificuldades no caminho. Na maior universidade do Brasil, a greve oferece agora a mais rica oportunidade de aprendizado para trabalhadoras e trabalhadores. 
Amanda, trabalhadora da prefeitura do campus da USP


"Pau Que Bate Em Chico Também Bate Em Francisco
Esse dito popular, tão brilhantemente composto, esta sendo muito empregado nos discursos que cercam esse tenso momento que vivenciamos. Digno de análise minuciosa detemo-nos a principio na composição.
A afirmação que o “pau que bate” quer aqui não só expor o objeto utilizado, mas também a ação empenhada. Porém o sujeito que pratica a ação esta convenientemente oculto, vamos então, num contexto lúdico, nomea-lo governo. O oculto governo deixa o pau ser culpado sozinho, talvez com provas forjadas, no caso talhadas se tratando do pau ser de madeira.
E quem sofre a ação, Seu Chico e Dr. Francisco. Querem os deuses da boa retórica nos fazer crer que a mesma força empregada nas duas ações teriam igual peso e teor? Como o Dr. Francisco homem letrado, culto, numa brilhante carreira que lhe rende prestígio, suportaria as mesmas pauladas a que submetem Seu Chico peão de obra, que carrega três vezes o próprio peso, acostumado aos sopapos e solavancos que o oculto lhe dá.
Nota-se que a frase usada para igualar seres, setores e temores, espertamente se burla gritante numa denuncia, se erguendo contra a farsa na qual a querem usar. Se até a frase se ergue contra o oculto, o que impede Seu Chico de também o fazer? O que segura a fúria de Seu Chico é a crença que Dr. Francisco está ao seu lado aguentando calado, o pobre homem rico.
Jamais bateram no Dr. Francisco com a mesma força que sovam o Seu Chico, ainda que o braço que segura o pau seja o mesmo.
Então é no silêncio que está igualdade em questão, um por medo o outro por conveniência.
O que descobriremos então se pensarmos em outros brilhantes ditos populares. E se “a corda que sempre arrebenta do lado mais fraco” esteja propositalmente desse lado corroída por dentes que buscam na queda a liberdade. E se...
Como são ricos os ditos, apesar de populares."
Ana Gomes, trabalhadora da Faculdade de Odontologia

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