terça-feira, 19 de agosto de 2014

Aos trabalhadores da USP, ao Comando de Greve, ao SINTUSP


Isabelle Gomes de Moraes, petroleira do Terminal da Baía de Guanabara - RJ e membro da CIPA
Leandro Lanfredi de Andrade, petroleiro do Terminal de Campos Elíseos - RJ

Companheiros, acompanhamos dia a dia cada passo de sua histórica greve em defesa do reajuste salarial e contra os ataques à USP como parte da política de privatização da educação e da saúde do governo Alckmin e dos seus agentes na reitoria. Vimos que recentemente o reitor Zago veio a público confirmar propostas que farão nada menos que destruir a qualidade desta que é a principal universidade do país, com a desvinculação do Hospital Universitário e o corte de funcionários, como se não bastasse o disparate de negar o reajuste legal dos salários na data-base.
Somos trabalhadores da maior empresa do país, a Petrobrás, que também é alvo constante de tentativas de privatização e precarização do trabalho. Um dos mecanismos mais ardilosos para precarizar o trabalho na Petrobrás é a terceirização, e volta e meia um PDV (plano de demissão voluntária). Também na USP, o reitor Zago propõe um PDV. Queremos, com um pouco de nossa experiência, e como irmãos da classe trabalhadora, alertar vocês dos perigos dos PDVs.
Tal como ocorre com a USP os PDVs que já ocorreram na Petrobrás vieram em situações onde a empresa e os governos alegavam estar atravessando uma crise. Via de regra falta transparência nos gastos, sobram denúncias de irregularidades e gastos em obras faraônicas, porém, no fim das contas onde querem cortar gastos é sempre no mesmo lugar: nos direitos, salários e empregos, para que sejam os trabalhadores quem pague as “crises” que eles geram.
Na Petrobrás tivemos este ano um grande PDV. Mais de 8 mil trabalhadores se inscreveram. Este foi o primeiro PDV desde que Lula assumiu o governo em 2003. Os PDVs dos anos 1990 – era FHC – eram feitos sob imensa pressão para atingir um número mínimo de pessoas inscritas e pairava sobre todos a ameaça de que se o número não fosse atingido haveria demissões diretas e não “voluntárias”. Milhares de petroleiros, com a conivência dos sindicalistas da CUT, foram embora e a terceirização aumentou exponencialmente. Hoje temos 320 mil terceirizados para 75 mil funcionários próprios. Muitos trabalhadores saíam no PDV e meses depois voltavam como terceirizados, obviamente, com menores salários e direitos.
O PDV de 2014, de Dilma e Graça Foster, foi um pouco diferente daqueles realizados nos anos 1990, mas terá o mesmo resultado coletivo nefasto. No PDV deste ano só podiam se inscrever funcionários que já estivessem aposentáveis pelo INSS e, dependendo do cargo e função, obtiveram um grande valor em indenização em troca de permanecer na empresa por um período. Aos trabalhadores em fim de carreira esta soma é uma esperança de complementar sua renda, ter estabilidade para si mesmos e suas famílias. É contando com este anseio que a empresa se utiliza do PDV. Mas ela o utiliza para seus fins: precarizar o trabalho e aumentar o lucro. Dos 8 mil funcionários que se desligarão até 2017 a empresa só se compromete a repor 60% do quadro. Os funcionários novos que entrarão no lugar dos antigos ganharão menos e assim a empresa aumentará seu lucro, aumentando a exploração dos que ficam, pois a produção aumentará e os salários e direitos diminuirão, pressionando os que ficam. Mas também aumentará os riscos à saúde dos petroleiros e de todos os brasileiros que podem ser afetados por acidentes.
Em resumo, o PDV da Petrobrás será um instrumento para enxugar o quadro da empresa e consequentemente aumentar a terceirização e precarização do trabalho. Com esta terceirização e precarização, sem reposição do quadro, já estamos vendo uma sangria de “cérebros” na empresa, e em pouco tempo veremos graves acidentes, pois um dos setores mais afetados pela não reposição de quadros é a manutenção. Se isto acontece em uma empresa que produz tecnologia de ponta, mas é, em última instância, uma grande fábrica, tememos que o PDV da USP terá consequências ainda mais nefastas para a produção de conhecimento, afetando todo o nosso país.
Por estes motivos alertamos os trabalhadores da USP em greve para que não se iludam com as promessas individuais atrativas que podem constar em um PDV e levem em consideração os malefícios coletivos que caminham junto. Do dinheiro do petróleo ou dos impostos do estado mais rico da federação seguramente há recursos para garantir dignos planos de aposentadoria para os trabalhadores, bem como reposição de todos aqueles que se aposentam, atender as reivindicações da greve, e sobretudo não fazer a crise que os governos e gestores criaram recaía em nossas costas. Sua luta é nossa luta! A vitória de vocês contra os planos de ajuste do reitor Zago e do governador Alckmin será uma força para os petroleiros e toda a classe trabalhadora.

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