quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Carta e cimento: receita de solidariedade






por B, carteiro de SP

                Zaza, carteiro experiente, a anos entrega carta no mesmo distrito. Tal distrito é um bairro operário, situado na periferia da grande São Paulo. Todos os dias Zaza passa pela rua Z, onde mora Seu Francisco (deficiente físico) no numero 80.  Comumente se cumprimentam, conversam sobre o clima, Seu Francisco pergunta se tem alguma carta para o numero 80 ou para o 84 (seu vizinho, no qual repassa as cartas) e logo em seguida zaza as entrega. A cena que se segue a essa é a do morador do numero 80 subindo de quatro as escadas de sua casa, pois estas são muito íngremes, além da distancia do ultimo degrau à porta que é enorme.
                A angulação da escada e a distancia do ultimo degrau à porta não é o único motivo que faz seu Francisco subir as escadas de quatro. O principal motivo vem da sua deficiência física fruto dos problemas de saúde que adquiriu nos longos anos de trabalho na indústria de sapatos mexendo com látex, como problemas circulatórios e epilepsia grave. Tais enfermidades fazem com que sua perna esquerda não tenha força para funcionar como apoio, o que forçou Seu Francisco se aposentar previamente. Angustiado com a situação que via diariamente, Zaza resolveu usar seus 15 anos de experiência na construção civil para ajudar. Montou um projeto para arrumar a escada, fez o orçamento e chamou seus camaradas carteiros  para ajudar na empreitada, que logo toparam.
         
  
     Esses camaradas carteiros, que muitas vezes passam mais tempo juntos no trabalho do que com a família, juntamente com zaza, passaram os últimos meses se reunindo para discutir como a divisão que existe entre os carteiros é prejudicial para eles próprios, e que tinham que ser mais solidários entre si. Foram mais além e chegaram a conclusão que a divisão não é só entre carteiros, mas entre toda a classe trabalhadora e que portanto é necessário ser solidário com toda a classe. Ajudar Seu Francisco nada mais seria do que exercer essa solidariedade de classe.
                
Fizeram a vaquinha entre si para juntar o dinheiro necessário, compraram o material que iriam utilizar, compraram carne para fazer churrasco na obra (um pouco de lazer não faz mal a ninguém) e colocaram a mão na massa. Foram dois sábados carregando entulho, tijolo,bloco, lage e mexendo concreto. É importante ressaltar que o trabalho de carteiro é fisicamente muito cansativo, portanto o fim de semana é o tempo de descanso físico do carteiro. Dois sábados mexendo em obra significa dois sábados de cansaço acumulado. 

                Ao final da obra Seu Francisco e sua famíla não sabia como agradecer o que tinham feito por ele. A ação foi comentada por toda a vizinhança da rua. Zaza e seus camaradas mostraram que não são indiferentes nem a  Seu Francisco nem a população na qual entregam carta. Merecem aplausos pelo que fizeram pois, nessa pequena ação, de uma forma natural e espontânea, deram um grande exemplo de Solidariedade de Classe e de como os Trabalhadores podem nas coisas mínimas resolver os problemas do povo pobre e oprimido.
                


O autor desse texto tem muito orgulho de hoje poder afirmar que esses carteiros hoje fazem parte do Movimento Nossa Classe, e trazem consigo toda sua moral classista colocando-a a serviço da luta de classes. 







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